HOSPITAL - V



O tempo no hospital parecia interminável, estava me recuperando bem , diziam os médicos, tinha  uma febre que ia e vinha, isso deixava minha mãe bem chateada.
Depois do tombo da cadeira, minha mãe não deixou mais me colocarem na cadeira de banho, passei a tomar banho na cama, as enfermeiras jogavam bastante água, não era banho de gato não. Sentia falta da água do chuveiro caindo em mim.
Tinha uma espasticidade muito grande ( pernas e braços esticados e muito duros, difícil de dobrar, meus  familiares tiveram que aprender como fazer para dobrar, comecei a tomar Baclofeno em uma dose bem alta, (um relaxante muscular que age neurologicamente. Nesta fase estava “desacelebrada” quando o celebro não tem comunicação nenhuma com a medula, por isso a espasticidade.
Minha mãe vivia correndo atrás da fono, pois estava demorando muito para começar a fazer o tratamento. Não conseguia abrir a boca voluntariamente, e também não controlava a mordida. Estava com movimentos primitivos, se alguém colocasse o dedo dentro da minha boca, já era, ia perder o dedo, pois a mordida era muito forte , e eu não conseguia abrir.
Depois de muito insistir apareceu uma fono lá, muito desinformada do meu caso, primeiro esticou a mão para me cumprimentar e depois começou a fazer várias perguntas – Se eu era casada? se tinha filhos? quantos anos eu tinha? Minha mãe começou a responder, ela não gostou e disse que era pra eu responder, até que  minha mãe explicou tudo que tinha havido comigo e que eu não conseguia fazer e nem falar nada .
Na sessão seguinte,  ela chegou com uma escova de dente , colocou na minha frente e  disse: -“ Paula, isto é uma escova de dente”. Acho que ela pensou que o AVC tinha me deixado lesada. Quando ela saiu, minha mãe e eu começamos a rir muito, sabia perfeitamente o que era uma escova e pra que servia, ela que não sabia que lesões baixas como a minha, não afetam o cognitivo. ( deveria saber, já que trabalha dentro de um hospital ).

Mas ensinou a minha mãe a fazer a higiene dentro da minha boca, tinha que pegar 5 espá
tulas, colocar um em cima do outro, amarrar um monte de gaze na ponta e ir colocando devagarinho entre meus dentes, para que pudesse ficar um pouco aberto e sem risco de fechar, só assim  ela conseguia limpar um pouquinho a língua e passar a escova de dentes. Complicado demais...










Comentários

  1. Paulete, é a Pâmella! Estou acompanhando seu blog e fico curiosa e ansiosa pelas próximas postagens. Não canso de dizer o quanto vc é exemplo de pessoa forte e guerreira pra mim (sempre foi). Só te admiro mais a cada dia e a cada detalhe que vc passa aqui. Vc é f#$@! Te amo! Parabéns pelo blog!

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  2. Paulete, é a Pâmella! Estou acompanhando seu blog e fico curiosa e ansiosa pelas próximas postagens. Não canso de dizer o quanto vc é exemplo de pessoa forte e guerreira pra mim (sempre foi). Só te admiro mais a cada dia e a cada detalhe que vc passa aqui. Vc é f#$@! Te amo! Parabéns pelo blog!

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  3. Duas coisas estão me chamando muito a atenção nos seus textos:
    1 é quanta insensibilidade se encontra nesses ambientes em que as pessoas deveriam estar 200% preparadas para o acolhimento tanto dos pacientes quanto da família.
    2 é o bom humor e leveza com que você encara e relata essas situações. Super beijo!!

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